Segunda-feira, 15.00 horas, tarde fria de outono. O ponto de taxi está com seus carros brancos enfileirados enquanto os motoristas, numa rodinha, conversam alegremente. Com os corpos retesados pelo frio, eles esfregam as mãos e dão pulinhos para se aquecer. De vez enquanto um deles olha para trás na esperança de ver algum possível passageiro se aproximar.
De repente surge, não se sabe de onde, a figura de um coreano de estatura mediana. Apressado, segurando uma grande mala de cor vinho e com rodinhas, ele corre na direção dos taxis gritando : -:”Quelo taxi .. muito plessa.. .”
Finalmente, é a ‘vez’ de Oliveira fazer a corrida, um rapaz alto, recém-casado, de uns 35 anos, moreno jambo, com covinha do lado esquerdo do rosto e um bigodinho muito bem aparado.
Seu apelido: Bigodin..
Bigodin se precipita para abrir a porta traseira direita do carro e o coreano joga a mala no banco.
Ao chegar perto do semáforo, na esquina o taxista ouve gritos. Ele olha pelo retrovisor, fica boquiaberto e vê o coreano gesticulando e correndo atrás do carro, gritando -‘ladlão, lobo meu mala..”
Nesta mesma esquina uma viatura da policia de plantão está parada. Dentro estão dois policiais aguardando no sossego que algo de interessante aconteça.
Fazendo gestos desesperados e usando a mimica para se fazer entender, o coreano chega perto dos policiais, aponta o taxi e, sem fôlego, só consegue balbuciar : :-“Ladlão, oh, oh, ele com meu mala, lobo meu mala..”
Então um dos policiais o faz entrar no carro e assim tem inicio uma breve perseguição ao taxi, ao som de uma sirene inquisidora.
A viatura logo alcança o taxista que não estava entendo nada e nem o motivo de tal rebuliço. Bigodin ficou tão estupefato que nem soube responder às perguntas dos policiais. –“Não, não, repito, não roubei mala nenhuma. Pensei que o coreano estivesse atrás, sentado no banco. Não percebi que só estava a mala”.
O que aconteceu foi que, querendo ser super-prestativo e oferecer um bom serviço ao passageiro, Bigodin ajudou a abrir a porta do carro. O coreano jogou a mala no banco e correu por trás do taxi para abrir a outra porta e entrar. Porém o motorista já sentado ao volante não esperou, deu partida e saiu apenas com a mala e sem o coreano. Não percebeu o erro!
Rindo muito, os policiais acreditaram na versão do taxista assustado, que foi imediatamente liberado.
Um dos policiais entregou a mala ao coreano cujo comportamento estranho despertou a curiosidade dos homens da lei.
Pediram ao coreano que abrisse a mala para examinar o seu conteúdo. Qual não foi a surpresa ao constatar a existência de drogas, uma pistola e um rifle escondidos entre as roupas.
Consequentemente, o coreano foi escoltado até a delegacia onde foi atuado em flagrante e colocado atrás das grades.
Soube-se mais tarde que o individuo pertencia a uma quadrilha de contrabandistas procurados na América do Sul.
A partir daquele dia, Bigodin nunca mais esqueceu ninguém e antes de dar partida, passou a conferir a presença de cada passageiro, sentado no banco e com o cinto de segurança corretamente fechado.
Este episódio ele relembra rindo muito.
No ponto de taxi todos se divertem com esta história engraçada e a fama de Bigodin se espalhou pelos pontos de taxis de toda redondeza.